Entrevista marcada, o artista plástico Antonio Carlos Bech, mais conhecido como Toti, já aguardava sentado tranquilamente no jardim de sua casa, em um banco de pedra estrategicamente colocado à sombra de uma amoreira. Ao fundo, agradável som de água descendo de uma cascatatinha, ao lado de uma estátua do Buda em tamanho natural. “O som da água me acalma", conta Toti, a princípio um tanto hesitante, mas que aos poucos vai relaxando e contando algumas passagens de sua vida, a criação e trajetória da Oficina de Agosto, entre outros temas.
Desde criança Toti já se interessava pelo mundo das artes. O primeiro contato, relembra, “foi uma coleção dos grandes mestres da pintura, vendida nas bancas de revista”. A partir daquele momento percebeu que seu caminho era a arte. Assumiu muito jovem a profissão de antiquário, exercida por mais de 25 anos. Apaixonado pela pintura, foi buscar na Itália novas técnicas e mais conhecimento sobre arte.
Em agosto de 1989, decide dar uma guinada em sua vida e parte em busca de um novo projeto: uma oficina itinerante. Começa pelo litoral: Ilha Bela-SP, Parati-RJ, e em seguida Bichinho-MG. Cidade pela qual se encanta e estabelece sua Oficina de Agosto. "Queria mudar de cidade. Já tinha passado por praias e já conhecia o Bichinho", conta Toti, que se apaixonou pelo cenário e clima do lugar.
Sua chegada provoca uma pequena revolução no vilarejo. Aliando preocupação ecológica e comunitária, Toti desenvolve um grupo de artesãos locais, e comanda a produção de uma arte coletiva diferenciada e inovadora, com o uso de materiais reciclados encontrados na região. O artista conta que a oficina chegou a contar com mais de 100 funcionários: “Hoje temos 50 funcionários e 100 terceirizados. Houve um movimento inverso de fluxo de mão de obra. Antes o povo saia em busca de trabalho. Tinha gente que era pedreiro e hoje toca máquina de costura. Hoje temos que buscar mão de obra fora, como em Prados, por exemplo. Trabalhamos com pessoas inexperientes. Os que ficam experientes saem e vão montando suas lojas".
Com o surgimento de uma nova geração de artesãos, oriundos da Oficina de Agosto, o pacato vilarejo foi mudando, ganhando um novo e colorido visual com a instalação de diversas oficinas e ateliês de artesanato. Que passaram a atrair um número cada vez maior de turistas, a maioria vindo da histórica e vizinha cidade de Tiradentes-MG. Tanto movimento estimulou a abertura de pousadas e restaurantes pelo pequeno vilarejo. Os moradores de Bichinho, que só tinham como meio de vida a agricultura e pecuária,viram suas vidas mudarem através da arte . A Oficina de agosto é hoje uma referência nacional e até mesmo internacional, quando o assunto é artesanato brasileiro. Toti destaca a busca constante pela qualidade: “A criação não é coletiva, mas a produção sim. São feitos muitos testes e modelos até chegar no ponto desejado. Trabalhamos com materiais de qualidade e com garantia." O artista confessa que não esperava tamanha repercussão: "Tivemos uma idéia e houve uma união de esforços. Encontramos em Bichinho um pessoal com muita vontade de trabalhar, foi uma recepção ótima.
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